Mãos |
Sentada
no alpendre da varanda da sua casinha, sozinha, os pensamentos distantes,
talvez onde, ninguém poderá saber. Na rua o movimento de carros, freadas
bruscas, gritos que pareciam ser de socorro. Seus olhos não têm brilho, seu
sorriso parece uma carranca. Olhava tudo aquilo e não parecia se importar com
quem chegava, saia ou se com ela falavam. Quando criança não teve uma infância
tão proveitosa, criada que foi por uma tia que dela só queria o suor e que a
fazia disputar um prato de comida com o cachorro. O casamento parecia que seria
a liberdade que tanto sonhava. Ter sua casa, um marido apaixonado e carinhoso. Ter
filhos, muitos filhos para deixar seu lar florido de risadas e brincadeiras.
Teve muitos filhos, dez ou doze, ela já não sabe. A liberdade sonhada passou a
ser uma prisão vigiada e o trabalho agora era dobrado. Cortar lenha, lavar
roupas, passá-las com o velho ferro a brasas e o pagamento disso tudo era ouvir
o marido reclamar que a comida não tinha gosto, mesmo que o arroz e o feijão nem
tivessem sidos comprados por ele. É! Vida dura! Mas na roda da vida o marido se
foi num acidente quase em frente à sua casinha. Marido morto, filhos criados,
todos casados, menos uma que não quis de maneira alguma nem pensar na
possibilidade de ter uma vida de casada igual a da mãe. Agora sim a liberdade!
Aproveitar o tempo que resta para passear, conhecer o mar...Ela está ali
sentada numa cadeira no alpendre de sua casinha alugada. Mora com a filha que
não é casada e que dela cuida dando o banho que ela não toma sozinha, troca a
fralda para ela acordar sequinha. A vida não sorriu para ela e seus pensamentos
não estão tão distantes só não sabemos se ela pensa ou não, acometida que foi
pelo Mal de Alzheimer, doença também conhecida como demência. Mas não importa o
nome e sim que ela consome-lhe mente dia a dia, inexoravelmente até que Deus
lhe dê de presente a morte que alivia a dor de quem na vida não teve vida para
viver.
*Baseados em fatos reais
Manoel (Rabiscos do Mané)
*Baseados em fatos reais
Manoel (Rabiscos do Mané)
Oi Manoel,
ResponderExcluirMeu avô faleceu com este mal. Infelizmente é uma tarefa pesada demais para uma filha. É uma doença que deve ser delegada aos profissionais, enfermeiros treinados para essa tarefa, que podem se revesar, sem que a família se sinta culpada por isso. A filha deveria deixar a velhinha nas mãos desses profissionais, ou então ela própria ficará doente pelo esforço que requer.
Olá meu querido amigo,
ResponderExcluirTriste e verdadeiro este relato, tenho uma pessoa próxima com este doença, e é mesmo muito triste ver uma pessoa que amamos nestas condições... mais triste ainda é saber que ela não teve a vida que merecia, nem conseguiu realizar seus sonhos que eram tão simples e singelos, nada de impossível, mas que infelizmente a vida lhe negou...
Um abraço apertado e boa semana !
Grande Manoel,
ResponderExcluirQue bela narrativa literária.
Emocionante, fiquei arrepiado enquanto lia.
Muito triste, mas infelizmente esta é a história de vida de muitas mulheres do século XX.
É preciso viver com amor sem deixar o tempo passar...pois ele passa e a morte vem...ai o que nos resta é acreditar na ilusão da vida eterna...
Ola Mané! estava com saudades suas! q texto tristinho heim... pelo menos ela teve uma filha p cuidar dela né.... olha.. sera q a Clarice chega dia 28? apesar d q ainda temos o restante da noite d hj né? bjsss
ResponderExcluirOlá Mané!
ResponderExcluireu conheço essa historia de vida, ja ouvi pela protagonista muitas e muitas vezes.Mais fiquei muito emocionada pela suas palavras,pois é muito triste bater d frente com essa realidade,e lembrar q tudo q ela fez foi por um sonho nunca vivido.
beijos parabéns!
Olá Tio Manoel!!!
ResponderExcluirEssa historia é ouvida em todas as visitas, por essa pessoa amada e muito querida por todos nós. Historia triste, porém muito real; nos ajudando a valorizar a cada dia mais nossas vidas e as pessoas que nela rodeiam.
Obs. "Não coloque dias á sua vida, coloque vida aos seus dias!"
Beijos fica com Deus
amo vocês...