A cidade está em festa, muita gente cantando na
rua e até a Escola de Samba do bairro está desfilando pelas ruas tocando o Hino
Nacional em ritmo de samba. Eu acho meio perigoso o que estão fazendo porque os
militares podem não gostar disso, mas o que importa e que o Brasil é Tri
Campeão e a taça do mundo é nossa! O céu está salpicado de balões coloridos,
grandes, pequenos. Rojões estouram por toda a cidade. Todos estão felizes com a
vitória da seleção brasileira, que assistimos ao vivo pela televisão. Nunca
mais vou esquecer essa data, assim como não me esqueço do carnaval de 67 quando
fomos visitar o tio Jaime que havia se mudado para Jambeiro. Para ir não tinha
ônibus e fomos todos no caminhão leiteiro. Minha irmã não conseguiu subir na
carroceria e minha avó, que iria na cabine trocou de lugar com ela. Gosto de
visitar meu tio Jaime, o melhor contador de história que eu conheço. Ouvi-lo é
participar dos causo que ele conta. Quando chegamos, minha prima Célia já
começou a falar que tínhamos que ir a matine de carnaval que ia ter no clubinho
da cidade. Foi muito bom, todos brincando, rindo, cantando e sem nenhuma briga.
Das marchinhas tocadas ainda me lembro de algumas: Marcha do remador (Se canoa
não virar olé, olé, olá.), Mascara Negra (Quanto riso oh quanta alegria.), Me
dá um dinheiro ai (Ei você ai, me dá um dinheiro, me da um dinheiro ai.) e
muita s outras. Não posso esquecer ainda a minha formatura do primário no final
do ano de 1966. Participamos de uma missa em ação de graça. Mas o que realmente
não esqueço é que para participar da missa tínhamos que antes confessar com o
padre da Igreja São Judas, o Padre José. Quando chegou a minha vez e ele
perguntou há quanto tempo eu não me confessava e eu respondi que fazia pelo
menos uns três meses ele falou rispidamente. – Você não precisa mais se
confessar. Você já está a caminho do inferno. Reze 200 Aves Maria e mais uns
100 Pai Nosso e mesmo assim não sei se vai adiantar! Sai do confessionário
arrasado e em pensamento pedindo a Deus que fizesse com que o padre me
recebesse no inferno. Minha mãe pergunta por que não vou mais á missa e eu digo
que não quero. Não falo o que aconteceu para não magoá-la. E eu estava tão
feliz com minha primeira calça comprida e meu primeiro par de sapatos! Fui à
missa, mas não comunguei. As lembranças são assim, coisas boas e coisas ruins.
Mas em 1969 meu irmão mais velho, o Chiquinho comprou um televisor novinho.
Para quem já tinha estado no limite de passar fome quando meu pai morreu,
tínhamos progredido bastante. Eu me emociono ao lembrar o astronauta americano
Neil Armstrong pisando pela primeira vez no solo da lua. Algumas pessoas, as
mais velhas como o Seu Zé e a Dona Maria, nossos vizinhos, não acreditam. Minha
mãe também diz que isso é mentira. Eu acredito e tenho certeza que é verdade,
assim como o meu tio João. O negócio é parar de pensar no passado. Amanhã vou
começar a trabalhar com o meu irmão que abriu uma lavanderia, a Lavanderia do
Chiquinho. Como não consigo encontrar nada nas fábricas, eles dizem que
primeiro tenho que servir o exército, vou lavar roupas para o meu irmão. Tenho
que ajudar de alguma forma, pois só eu não trabalho. Está certo que cuido da casa e olho meu irmãozinho o Toninho que tem
só doze anos. O Benedito trabalha no
armazém do primo Zezinho, minha irmã trabalha na Ericsson e minha mãe na
fabrica de louças. Não sou vagabundo! Não tenho culpa se
não encontro um emprego. Vou voltar a estudar porque aquela história da minha
mãe que só o primário estava bom não é verdade. Só com esse estudo não vou
conseguir nada. - Já vou! Estão me chamando para ajudar a segurar o balão que
vão soltar agora. - Calma ai Cido! To indo! Bem melhor parar por aqui.
Lembranças:
Muito boa história, e recordar é viver, vídeos bons que me fez viajar a marchinha então kkakakaka
ResponderExcluirSaudades, velhos tempos.
Abraços forte
Amigo Manoel!
ResponderExcluirQue história gostosa de ler,achei lindo da forma que você falou da sua primeira calça e par de sapatos,achei muito engraçado o fato do padre ,kkk!
Amei a parte do homem pisando na lua,pois foi quando eu nasci,kkkk!
O carnaval,me lembrou quando eu e minhas irmãs íamos para a rua com meus Pais,para vê,muito bom,sua história de vida,relembra a minha.
Muito obrigada por me fazer relembrar um pouco de mim!
Parabéns amigo,sua história esta um primor de tão linda!
Me deu uma PAZ!
Bjos de sua amiga e fã!
Olá meu queridíssimo amigo !!!
ResponderExcluirPuxa como é gostoso ler estas suas histórias, você escreve de uma maneira tão envolvente que me sinto lá e também acabo me lembrando das minhas peripécias !!
Adorava ir nas matinées, e ficava com os dois indicadores pra cima quando tocavam as marchinhas, estas aí mesmo, ah que delícia, era tão divertido ver aqueles confetes e serpentinas pra todo lado !!
Fiquei meio assim foi com o Padre José, que malvado né, nossa !!!
Muito bom amigo, adorei !!
Um super abração e que seu fim de semana seja cheio de alegrias !!
Caro Manoel, você escreve com bastante riqueza de detalhes, pintando um quadro com sua escrita.
ResponderExcluirUm abraço,
Jorge Purgly
Manoel ,meu amigo...mais uma vez uma grande história ,parabéns viajei também a minha infância ,hei vc aí ,me dá um dinheiro aí ,rsrsrs ... um grande abraço ,Alex .
ResponderExcluirParabéns, ótimo post, você ta de parabéns por enriquecer minha vida com esse bonito texto
ResponderExcluirAinnnn, adoro acompanhar estas continuações!
ResponderExcluirVc me fez lembrar minha ''escolinha da fé'' que era nossa preparação para 1º eucaristia!
Lembro-me mt bem do Padre Antônio da Cruz dizendo que se a hóstia pregasse no céu da boca, íamos pro inferno, rs!!!(tem até uma foto deste momento em meu blog)!!!
E em relação a Armstrong tbm conheço pessoas que não acreditam, mas ...
E aí será que este moço arrumou um emprego ou deixou empolgar-se demais com a TV novinha?????
Adoro ...
E aguardo a continua ...
=D
Eu morri de rir com: "Você não precisa mais se confessar. Você já está a caminho do inferno." Isso me fez lembrar os meus anos estudando em colegio de freiras... nossa... como tinha amigos que aprontavam. Só que comparados aos atuais aborrecentes, eles eram um santo! Então, que bom, nenhum deles foi para o inferno! kkkkkkk
ResponderExcluirMeu Deus, pra que tanta Ave Maria e Pai Nosso? Terrorista este padre.
ResponderExcluirAs pessoas tem mania de descrever o inferno com tanta riqueza de detalhes e assombros, que tem hora que eu penso que elas já estiveram lá!
Deliciosa sua infância! Gostei de estar aqui!
Oi Manoel!!
ResponderExcluirConcordo com a amiga aí de cima! Que padre hein!!
Tem histórias que dariam ótimos livros né!
Bjs
Balaio Variado
Manoel, essa crônica retrata uma realidade, é uma ficção, ou ambas as coisas? Você flui bem com as palavras, tem verve. Taí... Embora não seja exatamente o meu estilo, GOSTEI.
ResponderExcluirÉs encantador Manoel com tuas Histórias reais.
ResponderExcluirEngraçado que estamos nos infiltrando no mundo da tua mãe, tia, primos, irmãos mas como se tivessemos em casa, porque se falava a mesma linguagem ...
"ser vagabundo" quando o pai ou a mãe estão brabos é cumprimento universal, Manoel!
beijos, vou ler o outro agora.
Adorei este.
Maria Marçal - Porto Alegre - RS
obs.: lembrei-me que aqui todo mundo achava mesmo que pisar na Lua era uma invenção (rsrs)
Manoel q padre é esse heim? eu ri viu... tadinho rsrsrsr
ResponderExcluir