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Cemitério Municipal de São José dos Campos |
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Jazigo da família |
Por esses dias andei (será que
é andei mesmo?) lendo alguns textos em que seus autores escreveram sobre seus
momentos reflexivos. Uns dizem que o frio ajuda nesse buscar a alma, outros
dizem coisas diversas, todos eles muito bons de serem lidos. Ai, pensei comigo. Eu gosto mesmo é de fazer uma visitinha ao cemitério aqui da minha
cidade. Acham que estou louco? Eu mesmo me acho um pouco pirado sim, mas no
caso não. Vocês já foram a um cemitério? A maioria vai dizer que sim. Observaram
quão silencioso é. Cheios de vidas passadas, olhares que nada falam ou falam
muito, mas somente ouve-os à consciência de cada vivo que passa por lá.
Incrível, até o vento, dentro do cemitério sussurra, talvez para não perturbar
as almas que perambulam por entre os túmulos, assim como eu fazia naquela manhã
de outono. Breve completará cinqüenta e dois anos que meu pai morreu, e resolvi
fazer uma visita a sua última morada na terra. Parei em frente ao seu jazigo e
fiz uma prece a Deus! Meditei um pouco, pensando em como poderia ter sido
diferente a minha vida se aos quatros anos da minha vida ele não tivesse ido
embora. Dizem, os meus irmãos, que ele gostava de dedilhar um violão, sonho que
nunca realizei, e que também conhecia um pouco de sanfona, acordeão como é mais
conhecido. Será que eu seria hoje um cantor, músico? O meu irmão mais velho, o
que mais teve contato com ele, se não é um artista, ao menos sabe tocar esses
dois instrumentos. No meu caso, duvido muito, mas não custa acreditar que sim,
eu seria um artista. Olhei a placa com o seu nome e nela está escrito também os
nomes de uma tia e da minha avó materna. Viu? Ele está lá junto com a sogra, e
não reclamou, ao menos para mim ele nunca falou nada, Olhei as árvores se
balançando, como que me falando que não vou escapar, e que um dia elas farão
sombra para mim. Conversa fiada! Elas nem sabem se
serei enterrado nesse cemitério e nem mesmo se vai acontecer algum enterro do
meu corpo! Percebi que as árvores são muito
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Placa com nomes |
faladeiras e pretensiosas, e
preferi não continuar ouvindo-as. Então os passarinhos começaram a cantar e
queriam dizer a mesma coisa. Ora, como dar atenção a pássaros se eles cantam
mesmo estando presos em gaiolas? Agora é sério! Os cemitérios são uns lugares
gostosos de freqüentar. Lá se mistura o passado, presente e o futuro. Cheio de
poesias saudosas escritas nas lápides. Arte nas estátuas de santos, esculpidas
em barro, mármore, pedra, ferro, bronze, etc. Nesse, da minha cidade, estão
misturados também as crenças. Tem católico, protestantes de varias vertentes,
mórmons, ateus, judeus, budistas, maoístas e tudo mais que se pode ter de
crenças. Quando estava de saída, chegava de mudança o mais novo morador do
local, e nos olhos tristes dos familiares e amigos um adeus silencioso, sem
lágrimas, que por certo foram choradas durante o velório. Tomara tenha sido em
vida uma pessoa que merecedora daquela tristeza.
Amém!
Manoel