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Meus filhos | |
Hoje
estou completando 30 anos. Faz três que estou morando aqui no Tesouro. Meu
filho Nilson vai fazer sete anos e o Vinicius quatro. O bairro ainda está em
formação, mas acredito que em breve será muito grande. O que interessa para nós
é que tem uma escola bem próxima da nossa casa onde o Nilson irá estudar ano
que vem. Gosto daqui. Os vizinhos são boas pessoas, a rua é calma e meus filhos
brincam à vontade, além da casa ser novinha. Lógico que não é possível esquecer
o Jardim Paulista, onde praticamente nasci e de onde só sai agora. Vi o bairro
crescer, e crescer muito. Não me esqueço das três paineiras na esquina da minha
rua com a Itororó. Três lindas árvores que foram cortadas para dar lugar a uma
igreja protestante. Nada tenho contra nenhuma religião, mas fica aqui o meu
protesto.
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Rua da minha casa em 1979 |
É
o progresso, dirão! Sei disso, mas não posso deixar de ficar triste quando vejo
que as casas do outro lado da minha rua já não existem mais. Os vizinhos, bons
vizinhos, foram todos embora. E cadê a família Lopez, vendeu sua casa para o
Piratininga. E o seu Jovem com seu ferro velho? Vendido para o Piratininga. E a
Dona Margarida que vendias seus sorvetinhos de geladeira? Vendeu sua casa para
o Piratininga. A Pedrina, a família do Zico, A família do Talmo? Todas as casas
do quarteirão compradas pelos donos do Mercadinho Piratininga. Agora vão
construir um supermercado. E eles não se contentam. Agora estão comprando as
casas dos nossos amigos vizinhos de lado, e lá se vão para outros bairros o Seu
Augusto e seus filhos, que são meus amigos, Seu Antonio e a Dona Maria, pais do
Cidão, do Edésio, da Marcilia, o Veloso, amigo do meu irmão Chiquinho. Vão
transformar tudo em estacionamento! Amigos que se vão, e que a distância faz
perder. Será que quando eu tiver meus cinqüenta e seis anos irei me lembrar de
todos? Talvez não. Hoje, se nomeá-los, é bem provável que eu acabe esquecendo
alguns. Vou tentar: Cidão, Roberto, Talmo, Nelson, Dorací, Gláucia, Marilene,
Edésio, Claudinho, Zinho, Ana, Luiz. É, são muitos e muitas são as lembranças!
Lembranças como a do Serviço de Alto Falante do Jardim Paulista. Funcionava na
minha casa, onde antigamente meu pai tinha seu salão de barbeiro. Ali conheci
alguns artistas, duplas sertanejas que lá iam para fazerem propagandas dos
espetáculos que apresentariam nos circos que sempre eram aramados próximos à
minha casa. “Essa música alguém oferece a alguém e esse alguém já sabe quem”
Provas de amor musicado que o Zé Aparecido, que era o locutor e dono
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Com apoio da árvore |
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Casamento da Maria |
do alto
falante, anunciava com sua voz empostada. Acho até que “esse alguém” era ele
mesmo porque depois ele casou-se com a Dornice, filha do Zé Lopes. Foi também
no Jardim Paulista que meu filhinho deu seus primeiros passos. Tenho uma cena
na mente em que ele tentava ficar de pé apoiando-se no tronco de uma árvore
também em formação, plantada na calçada da casa da minha mãe. Como esquecer
ainda do casamento da minha irmã Maria. Eu tinha dezessete anos. Lembro que
tivemos que vestir nossas roupas novas com o corpo suado, pois a água tinha
acabado e não tinha como tomarmos banho. Sorte é que a Maria tomou banho antes
afinal, já pensaram uma noiva sem banho tomado? Foi uma festa simples, mas
bonita, com a presença dos tios, primos, amigos, vizinhos. Não posso esquecer
que foi nesse ano, 1972, que voltei a estudar o ginásio no Colégio Estadual
Estevam Ferri, de lá só não sai com o ginasial completo porque em 1975 fui
admitido na PETROBRAS e as horas extras obrigaram-me a parar com os estudos
mais uma vez. PETROBRAS! E pensar que fui reprovado nos exames médicos na
Embraer e na Ericsson. Eu sabia que mesmo sem ter visão em um dos olhos eu
tinha todas as condições de trabalhar nas duas fábricas. A PETROBRAS soube
reconhecer isso e me contratou. Hoje já fui promovido, após participar de um
novo concurso. As lembranças se misturam sem cronologia. O tempo passado faz
isso. Lembro-me agora quando o Cido estava prestando os serviços militares e em
suas folgas ele falava que tinha entrado nas matas para prender o Lamarca e a
gente ficava orgulhoso da sua coragem. Hoje eu sei que não era coragem coisa
nenhuma. Quando se está no exercito o que vale são as ordens superiores e pouco
importa ser corajoso ou não. Olha só! Lembrei-me agora dos dias em que eu e o
Toninho ajudamos ou trabalhamos no ferro velho do seu Jovem. Nosso serviço era
separar o lacre de alumínio e a tampa de borracha do vidrinho de injeção. O
trabalho pesado ficava com o Edésio que tinha que fazer os fardos de papel e
papelão na prensa manual.
É
o tempo passa. Hoje estou fazendo trinta anos. Estou casado, tenho dois filhos.
E...estão me chamando! Agora é hora dos parabéns e do bolo é claro. Estão
servidos?
Manoel
22/01/1985
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Nilson em pé |
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Família e amigos |
Gostei muito da história,da muita saudade de relembrar.
ResponderExcluirAbraço.
Olá Querido Manoel!
ResponderExcluirÉ tão bom relembrar amigo!
Essas lembranças que temos de infância e juventude,nos faz tão bem.
Quando você conta sua história é incrível como eu me transporto com você.
Acabo trazendo todas as lembranças que tenho da minha,acabei ficando longe,distante.
Adoro suas fotos,sempre tão vivas,adorei a foto
da noiva no carro,relembrou meu casamento.
Ainda bem que a noiva conseguiu tomar o banho.
Tudo maravilhoso como sempre,nossas lembranças,são sempre nossas e de nossas familias,por mais que os ventos soprem nada e nem ninguém nos tira isso.
Bjos em seu coração com cheirinho de Jasmin.
Temos que aplaudir a existência de "blogs" não é mesmo? Nele abrimos a casa e somos livres para discorrer sobre tudo que é assunto.
ResponderExcluirEste teu relato dos trinta anos serve como troféu para tuas recordações valiosas de um tempo que se foi apenas materialmente, mas que a escrita há de preservar por toda vida.
Adorei.
Abração, Manoel
Maria Marçal - Porto Alegre - RS
Oi
ResponderExcluirManoel,
amigo recordar é viver. Muito legal teu texto.
Beijão no coração e fica com Deus
Belas recordações,
ResponderExcluirparabéns pela linda postagem...
Ficou mto bom pai (como sempre) !!! ainda bem que não li o resto aquele dia na sua casa...com as fotos ficou bem mais legal.
ResponderExcluirParabéns !!
beijo