Caminhando pelas ruas do bairro me deparei com um pé de amora.

Caminhando pelas ruas do bairro me deparei com um pé de amora, uma amoreira. Nossa! Quanto tempo faz que eu não sinto o sabor de uma amora! Peguei uma, a que parecia mais madura e ao sentir seu gosto me veio à lembrança o meu tempo de criança. Perto da minha casa tinha uns três pés de amoras enormes, daquelas que a gente podia subir em seu tronco, escolher um galho e ficar saboreando grandes amoras pretas, doces como o mel. Lembrei-me também que naqueles tempos eu não tinha nenhuma obrigação na vida a não ser a de viver. Viver despreocupado dos problemas, afinal eles não eram meus. Para mim bastava um campinho, uma bola e alguns amigos para meus dias serem só de alegrias. Hoje, após algumas dezenas de anos vividos, não posso dizer que minha vida foi ou é ruim, isso não posso mesmo. Vivi uma infância feliz, mas tenho consciência que para minha mãe a vida foi muito dura. Viúva aos trinta e cinco anos com cinco filhos para criar, ela se desdobrou sendo mãe e pai ao mesmo tempo e as condições financeiras dela nunca foi das melhores, mas ela com muita garra e luta nunca deixou nenhum dos seus filhos morrer de fome. Eu, ao contrário, mas graças a ela, sempre tive um bom emprego e o dinheiro, se nunca sobrou também não faltou, e por isso tive condições de dar aos meus filhos melhores condições de vida do que minha mãe pode me dar. Mas convenhamos, a vida de criança é muito melhor do que a de adulto que com o passar dos anos vai se enchendo de tantas responsabilidades que tem hora que elas sufocam e parecem ser mais pesadas do que a gente poderia suportar e da vontade de parar num barranco qualquer e esperar a vida terminar.

Manoel