O fim que não acabou

Quem tinha fé rezava, orava. Quem não tinha também pedia em uma espécie de oração. O sol já não se via. O dia não mais existia. Naquele momento tudo ficou negro como uma noite sem lua, sem estrelas. Bem, na verdade todos sabiam que aquele seria o dia. Não havia gritos de lamurias. O som das preces soava límpido dando-me a impressão de que todos estavam cientes que não tinha mais nada a se fazer.

Riscos de fogo começaram a cortar o negro dia. Caia uma fina chuva, constante, sem parar um minuto sequer e sentíamos até os ossos molhados, ao menos eu me sentia assim. Os pássaros se recolhiam aos seus ninhos, os outros animais fugiam não se sabe para onde. Era o fim!

Pensei comigo – Não é exatamente isso que merece o homem? Fizemos tudo errado. O amor ao próximo, que deveria ser nosso guia de vida, nunca foi observado. Agora Deus tinha se cansado.

Sim, era o fim! Riscos de fogo começaram a cruzar o céu negro. Não caiam na terra. Ninguém, até aquele momento, tinha sido ferido, nenhuma morte. Então se ouviu um barulho estrondoso e o céu começou a cuspir labaredas de fogo que queimava casas e árvores. O chão se abria em frestas que deixavam sair raios de luzes coloridas. Ouviam-se gemidos de lamentos e choro. Então, como num estalar de dedos, tudo se fez silêncio.

Nenhum som!

Não sei por quanto tempo ficou assim, nenhum barulho. Cessaram-se as rezas, orações. A chuva parou sem que houvesse qualquer ser vivo molhado. O céu se abriu e o sol voltou a brilhar, e parecia ainda mais bonito. A escuridão se foi. Nenhuma casa destruída, nenhuma arvore caída ou queimada. As pessoas voltavam para seus afazeres como se nada tivesse acontecido, mas cada um de nós, quero acreditar, tinha presenciado o poder de Deus, que não se mostrou de rosto, mas deixou exposto a nossa insignificância, no mundo que é Dele.

Nada somos! O mundo não é nosso! Estamos aqui para cuidar e não para destruir!

É bom pensarmos que aquele que é criador pode um dia se cansar da sua cria.

Manoel

24/09/2010